segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Haroldo de Campos: entre Vênus e Minerva



poema qohelético 2: elogio da térmita

os cupins se apoderaram da biblioteca
ouço o seu áfono rumor
o canto zero das térmitas
os homens desertaram a biblioteca
palavras transformadas em papel
os cupins ocupam o lugar dos homens
gulosos de papel peritos em celulose
o orgulho dos homens se abate madeira roída

tudo é vão

a lepra dos cupins corrói o papel os livros
o gorgulho mina o orgulho
assim ficaremos cadáveres verminosos

escrevo este elogio da térmita

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o poeta ezra pound desce aos infernos


não para o limbo
dos que jamais foram vivos
nem mesmo
para o purgatório dos que esperam
mas para o inferno
dos que perseveram no erro
apesar de alguma contrição
tardia e da silente senectude
- diretamente com retitude -
o velho ez
já fantasma de si mesmo

e em tanta danação
quanto fulgor de paraíso

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mimnermo
tís dè bíos ...


que vida sem o consolo
de afrodite - ouro e crisólitos!
melhor morrer quando não mais
o mel do prazer a cripta
do amor furtivo a cama
me disserem: ama!

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a verdade


a verdade é o
delírio báquico:
nela nenhum elo
escapa à embriaguez
e como cada
um deles
ao se-
parar-se i-
mediatamente já se dis-
solve
ela é
igualmente a
paz
translúcida e
singela

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