sábado, 4 de julho de 2009

CARLOS NEJAR: Ensaios de Fogo


Revelações
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1.

Os animais, como as palavras, não mentem. Os homens, sim.
Mas nalgum recanto, suas palavras os desvelam. Não calam.
Querem a revelação.
O animal possui o mesmo instinto nostálgico dos vocábulos.
Se os símbolos ocultam coisas, só as palavras as dizem.
E sem dizer, são cintos postos na gaveta das rochas.
Tendem a apodrecer. Por inanição, inércia.
Sob a fluvial ferrugem.


2.

A memória é um animal solto sobre o coração.
Que também conhece inércia, apodrecimento.
Sem palavras.



Alegoria
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2.

O relógio é a medida do homem. Mas também objeto concreto da morte.
Como não entrelaçar esse silêncio cósmico de tempo a tempo, que as
palavras pendulam?
Não conhecemos ainda sequer a orla da casa bordada por esta agulha
de magnéticos naufrágios.




(Carlos Nejar, Editora Escrituras)

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