domingo, 18 de junho de 2006

ARTAUD e o CINEMA


Antonin Artaud, continua a perturbar profundamente a cultura ocidental. Repudiando com a mesma indignação o naturalismo estéril e o esteticismo dos formalistas, Artaud devota-se à utopia de uma arte “terapêutica da alma”, onde a vida é celebrada em ritual sagrado.
Ele nos convida a um percurso ainda arriscado pelos obscuros caminhos da criação.

Sérgio Coelho

RESPOSTA A UMA PESQUISA


1 – Que Tipo de Filme Você Gosta?
2 – Que Tipo de Filme Você Gostaria que fosse Criado?

1º. Gosto de cinema.
Gosto de qualquer tipo de filme.
Mas todos os tipos ainda estão por criar.
Acredito que o cinema pode admitir apenas um certo tipo de filme: só aquele onde todos os meios de ação sensual do cinema tiverem sido utilizados.
O cinema implica uma subversão total de valores, uma desorganização completa da visão, da perspectiva, da lógica. É mais excitante que o fósforo, mais cativante que o amor. Não podemos nos dedicar indefinidamente a destruir seu poder de galvanização pelo uso de assuntos que neutralizam seus efeitos e pertencem ao teatro.
2º. Exijo, portanto, filmes fantasmagóricos, filmes poéticos, no sentido denso, filosófico da palavra; filmes psíquicos.
O que não exclui nem a psicologia, nem o amor, nem o desnudamento de nenhum dos sentimentos do homem.
Mas filmes onde se opere uma trituração, um remanejamento das coisas do coração e do espírito, a fim de lhes conferir a virtude cinematográfica que se está buscando.
O cinema exige temas excessivos e uma psicologia minuciosa. Exige a rapidez, mas sobretudo a repetição, a insistência, a reiteração. A alma humana em todos os aspectos.
(...)
O cinema tem sobretudo, a virtude de um veneno inofensivo e direto, uma injeção subcutânea de morfina. É por isso que o objeto do filme não pode ser inferior ao poder de ação do filme – deve conter o maravilhoso.
Antonin Artaud


(Linguagem e Vida, Editora Perspectiva – Tradução de Sílvia Fernandes)

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